Ainda não nascia o dia quando apanhámos um autocarro/mini bus que nos levaria até Quelimane.
Estávamos prontos para desbravar o centro do País - Objectivo cidade da Beira;)
Praí umas 7 horas de autocarro, calor e humidade "normais" para estas bandas e 1ªparte da viagem estava feita... Facil!
De Quelimane até à Beira apanhámos (num cruzamento, claro...) um chapa muito sui generis...
Não foi facil arranjar transporte. Nada facil.
Assim que, quando vimos aquele chaço no trilho pretendido, olhámos um para o outro não mais de 2 a 3 segundos, negociámos o preço e siga que se faz tarde!
Foi o troço de viagem mais difícil e perigoso sem margem para duvida.
Um carro de caixa aberta. 3 lugares à frente e cerca de 10 a 15 pessoas na caixa exterior do pequeno veiculo de provecta idade.
Inicio da tarde e lá nos atirámos para a traseira do carro.
Durante a viagem, num misto de cansaço/desconforto perdi a noção das horas e kms feitos...
O carro não apresentava as minimas condições de segurança para levar 2 pessoas, quanto mais umas 15... Pneus nas ultimas, direcção com personalidade própria, travões rangedores,... Muita velocidade e a habitual estrada estilo superfície lunar...
A juntar à festa, a parte final da viagem foi feita em noite cerrada e debaixo de uma chuva torrencial e relâmpagos dignos do filme Africa Minha.
A ligação eléctrica luzes-bateria começou a falhar...
Parecia um comédia americana, daquelas tão estúpidas que nem dá vontade de rir...
Um km com luzes e outro sem.
Passar num buraco = luz off.
Nos entretantos conseguimos passar os 2 para dentro (as duas senhoras que lá iam já tinham chegado ao destino e mediante o pagamento de mais uns meticais a coisa resolveu-se).
Genial para evitar a chuva torrencial e poder ao menos ir totalmente sentado;)
O surreal da viagem teve como cereja em cima do bolo o facto de o condutor ser um gajo interessante e também ele "especial".
Por detrás daquele aspecto de vendedor de melancias estava um engenheiro de formação, estudou na ex Urss e juntamente com o irmão mais velho (professor de fisica) pensava um dia inventar um motor a água... Genial...Viagem genial;)
Falámos de mecânica dos solos, de hidráulica e das férias que passou num resort/casino de luxo na Africa do Sul chamado Sun City.
Com uma frequência aparentemente anarca e imprevisível (ou talvez não) o nosso chapa efectuava paragens para esticar as pernas e afins...
O calafrio na espinha deu-se quando o nosso amigo engenheiro numa paragem para jantar numa terriola da qual não lembro o nome (talvez Inchope) perdeu as chaves do espectacular clássico mal tratado que "escolhemos" como meio de transporte.
Não sei como, mas 15 minutos a vasculhar a terra (não se via a ponta dum corno...) foram suficientes para encontrar o metal magico.
Nesse instante perdi a % de receio que ainda me picava a consciência europeia.
Tavamos bem!
A sorte estava connosco, sem duvida...
Depois de 8 horas naquele carro já nada podia correr mal;)
A noite ía longa e já não íamos conseguir chegar à Beira naquela noite. Teríamos que apanhar outro chapa e a zona não era muito seguro...
O Engenheiro deixou-nos num hotel relativamente perto do parque natural da Gorongosa.
Há quem diga que este parque é mais genuíno e selvagem que o Kruger park...
Durante a guerra civil no país o parque ficou com muito poucos animais mas conseguiu (com a ajuda dum milionário filantropo norte americano) renascer em força mantendo a natureza inteiramente respeitada.
Infelizmente naquela altura do ano a savana estava alta e o parque ainda não estava aberto.
Fica portanto para uma próxima viagem aquelas terras. Depois de ter lido uma reportagem sobre o excelente trabalho que está a ser feito fiquei ainda com mais vontade.
Não sei se era a chuva ou o cansaço que lideravam...
Sei que dormimos até tarde e quando acordámos estávamos num "hotel" que mais parecia um jardim zoológico...
Um lago com 1 crocodilo, uma jaula com macacos, patos, papagaios, lagartos,....
Viagem twighlight zone do inicio ao fim :)
Á porta do hotel conseguimos boleia até ao tal cruzamento onde paravam os chapas e autocarros para a Beira.
A comparar com o dia anterior, a coisa estava bem suave...
Entràmos no chapa e 3 horas depois estávamos na estação de autocarros central da beira onde a espanhola Rosa nos esperava...
Íamos ser novamente mimados!
Ficaríamos na vivenda de um português amigo do António, com a mulher Rosa, os 2 filhos, um cágado e uma impala bébé...
Senti na pele o ditado "depois da tempestade, a bonança";)
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