Nada de relevante a declarar... (Para além do bem que soube voltar a beber uma cerveja gelada com um grande amigo de longa data, Gipsy Pijas)
Uns dias de chuva antes da nossa chegada foram suficientes para escurecer o mar de Pemba e nos tirar a vontade de permanecer mais do que um dia por estas bandas.
Eram 4h30 da manhã quando apanhámos o táxi para a estrada à saída de Pemba onde a maioria dos chapas, táxis, carrinhas, camiões, autocarros param...
Apanhámos o ultimo chapa com destino à povoação mais perto do barco que nos levaria para o idílico arquipélago das Quirimbas, também conhecido por as caraíbas de África.
Entrámos/atirámo-nos para o interior do chapa.
Nas traseiras de uma carrinha de caixa aberta tapada por plásticos em cima de uma estrutura de bambo não havia espaço para nada. Literalmente para nada, pensámos...
Entre homens, mulheres, crianças, sacos de milhos e arroz, fruta, madeira e bagagem dos passageiros, conseguimos arranjar uma nesga de espaço para sentar, bem no meio, em cima de sacos de farinha e sem direito a qualquer encosto... Tinha que ser! E foi...
(Se duvidas ainda existissem elas foram dissipadas naquele segundo - Estamos mesmo em África. Não na África do Sul mas África..Quem quer ar condicionado, internet e um cafézinho do starbucks é melhor ficar fora...)
Foram 8 sofridas horas de viagem.
Ninguém se queixava do que quer que fosse, nem os mais velhos nem as crianças... Impressionante a capacidade de sacrifício desta gente, pensava eu enquanto tentava ganhar um pouco de espaço para conseguir pôr o pé esquerdo em cima duma esteira enrolada.
Num calor intenso , e tenso da viagem, chegámos a uma clareira de terra à beira de um canal onde só existiam duas casas/palhotas/cabanas e um enorme emboeiro.
A maré estava vazia e assim nada feito...
Teríamos que esperar mais 2 horas pela subida da maré.
Esperámos, sem alternativa, pela água enquanto um grupo de miúdos nos rodeava com uma curiosidade ávida de novidades...
Aos poucos, sem nenhum sinal, começamos a ver mulheres com enormes pesos na cabeça a andarem passada lenta mas ritmada em direcção ao canal.
O barco de pesca de madeira esperava-nos...
Durante 20 minutos o pequeno barco foi enchendo de pessoas e de carga até não se vislumbrar um único centímetro de madeira do barco.
Perguntei, a rir, ao homem do motor se não era peso a mais...
Olhou-me muito calmamente, esboçou um sorriso como que respondendo ao meu riso, e respondeu-me que o barco levava até 8 toneladas de peso... (Pois, pois... - pensei eu...Siga!)
Depois de duas horas a navegar entre canais de matagal a lembrar paisagens amazónicas, pequenas ilhotas totalmente preenchidas de verde, chegámos finalmente à ilha do Ibo.
Uma garrafa de água, um pacote de bolachas e 13 horas de viagem depois - IBO...
Só me vinha à cabeça a frase chavão que um guia disse ao Pijas durante a subida do Kilimanjaro. Qualquer coisa como: - "Pain is temporary, glory is eternal!"
Pelo caminho o castanho da água e a pouca visibilidade tornou-nos cépticos quanto à opção tomada de visitar as Quirimbas...Huummm, queremos mais que isto!
Estávamos muito cansados, esfomeados, sujos e com muita vontade de relaxar, dar uns bons mergulhos em águas cristalinas, ver peixinhos e peixões....
Não poderíamos estar mais errados!
Assim que encontramos alojamento, saciámos a fome com 2 mangas docissimas e demos um revigorante mergulho nas águas quentes e transparentes do lado oposto da ilha... Linha!
O paradísiaco arquipélago das Quirimbas, banhado por mares azul turquesa e uma vida marinha riquíssima começava-se a compor aos nossos olhos e a prometer um grande dia seguinte;)
Siga para Bingo!
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