domingo, fevereiro 20, 2011

Nampula-Cuamba

Chegámos tarde à estação, perto das 4h30...
O que foi sinónimo de grande dificuldade para encontrar 2 lugares sentados no meio da escuridão e com tanta gente a alimentar a azafama matinal da estação...  
Diariamente e de forma alternada, neste trajecto existem comboios de 3ªclasse ou 4ªclasse. 
Era dia impar, 4ª classe seria... Siga!
(Como seria o comboio 3ª classe? As casas de banho teriam porta? os bancos seriam mais confortáveis do que aqueles de madeira? Haveria luz? Pouco interessava saber...)
5h da manhã e iniciávamos a viagem de 10h rumo à poeirenta povoação de Cuamba, situada na província de Niassa.
Carinhosamente (ou não...) Niassa é apelidada pelos Moçambicanos como Fim do Mundo. :)
Esta "classificação" está, muito provavelmente, relacionada com o facto de ser uma província interior, remota e pouco populosa, meio selvagem e longe dos centros de decisão governamental.
Seguimos pois...
As 1ªs horas foram mais desconfortáveis porque a carruagem estava muito lotada de pessoas e todo o tipo de bagagens penduradas em todas as partes. 
Mas o desconforto foi largamente suplantado/compensado pelo pitoresco da situação, pela descoberta do trajecto e pela magia da experiência. 
Perdi a conta às dezenas de vezes em que o comboio parou.... 
Cada vez que parava um mundo novo nascia dentro e fora do comboio e um enorme mercado ao ar livre nascia num instante, rico em produtos, preços e trocas comerciais. Havia de tudo a diferentes preços....
A maioria das pessoas compram várias coisas durante este tipo de viagens. Sacos e saquinhos, muitos e diferentes...
 Quer seja para consumo imediato mas essencialmente produtos para levarem para o destino final. 
Na nossa carruagem até tartarugas pequenas foram compradas....


Uma das vantagens de termos feito escala (de bus e chapa, entenda-se) no dia anterior em Nampula foi a possibilidade de irmos a um supermercado bem apetrechado (preços muito semelhantes aos de Portugal) e prepararmos umas faustosas sandes de queijo cebola e tomate para a viagem de hoje. 
Caso contrário teriam sido 10 horas só a comer mangas e bananas. Sumarentas e muito deliciosas por sinal mas insuficientes para pseudo Joões Garcias como nós... 
A paisagem pouco se alterou na 2ª parte da viagem, a carruagem ficou menos cheio e deu para dormitar umas horas.


Nas ultimas horas de viagem começamos a perceber que entrávamos no "fim do mundo", destino Cuamba....
O castanho das estradas de terra era agora também marcado pelo verde no horizonte, montanhas assimétricas e um ceu enorme demais para os olhos.


Estávamos a entrar no verde, antes de entrarmos  de novo no castanho forte de Cuamba...


Entre o diferente mundo colorido dentro daquele carruagem e as paisagens lá fora, passaram-se 10 horas de viagem....
Chegávamos a Cuamba. 
Íamos ser bem mimados;)
Siga!!

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Pangane - Nampula (parte II)

Fomos rápidos na mudança, como se impunha, e ainda assim íamos ficando sem lugar...
Tirando o habitual calor desgastante, a viagem corria bem. 
Apanhámos uma espécie de mini bus barulhento (a sensação que o motor estava no lugar do lado era demasiado real para permitir dormir).
Perdi a conta às horas mas devemos ter andado umas 2 horas entre estradas de terra bem compactadas e troços de espécie de aslfato bastante esburacado quando existente...

Nestas viagens há situações que se repetem religiosamente:
 - o veiculo ser mandado parar num dos inúmeros postos de controle policial que existem (a razão e o numero de vezes que acontece num troço da viagem é algo completamente aleatório);
 - pararmos demasiadas vezes (em todas as aldeias e terriolas);
 -  venderem-nos todo o tipo de bebidas e comidas nestas paragens;
 - sermos "obrigados" a mudar de transporte num qualquer cruzamento.

Depois destas 2horas apanhámos um outro autocarro, tipo renex tunning com 20anos.
A viagem duraria mais 4 horas, aproximadamente...
 Em 1hora de viagem fomos mandar para 2 vezes pela policia.
Na 1ª vez um pequeno suborno por parte do motorista (habitual nestas viagens porque regra geral a carga e lotação é largamente excedida) foi suficiente para seguirmos viagem...
Porém qual não é o nosso espanto quanto somos mandados parar uma 2ªvez, poucos kms depois.
De nada valeram os apelos do motorista para que nos deixassem seguir viagem... 
1º um policia e depois outro entraram no autocarro. 2 policias prepotentes, autoritários e bem armados... Tivemos direito ao pack completo! 
Obá obá!!!

Percorreram o corredor na totalidade e voltaram para as filas da frente onde estávamos sentados.
Não só nos pediram o passaporte como nos obrigaram a retirar as nossas mochilas da apinhada bagageira colectiva na base do autocarro.
O António foi convidado/forçado a tirar tudo o que tinha na mochila peça por peça...
A esta altura todos os passageiros estavam cá fora a assistir ao espectáculo. E outros habitantes locais se juntaram também...

Enquanto isto acontecia eu tentava convencer o outro policia que não iria ver mais que roupa na minha mochila Freetime mirage 70 castigada das viagens anteriores (uns dias em Moçambique deterioraram-na mais do que 2 Interrails, uma viagem à Croácia e uma incursão pelo Rio Janeiro, Buenos Aires e Uruguai).

Retiveram-nos o passaporte durante meia hora e nos entretantos da palhaçada policial foram identificando mais 3 ou 4 pessoas (2 delas ficaram no posto e não seguiram viagem...).
Com calma, conseguimos reaver os passaportes e resistir ao atalho de os "tentar" subornar... 
O isco foi montado mas o facto de falarmos português e não termos nenhum objecto estranho serviu de escudo.

Seguimos viagem, na esperança de até Nampula não pararmos mais.
Fomos mandados parar mais uma vez 2horas depois, mas sem quaisquer consequências.
Cansados dos kms e completamente esfomeados chegámos à entrada de Nampula, em frente à estação de comboios. 
Ufa!

Sentimos imediatamente um ambiente hostil próprio das estações de grandes cidades.
Muita gente com olhares diferentes dos que tínhamos encontrado até agora... Tensão no ar.
Não perdemos tempo com deambulações supérfluas por aquelas bandas. 
A luz do dia perdia expressão, apanhámos um taxi até um hotel bem porreirinho que o António conhecia...
Merecíamos sem duvida um boa cama, uma boa casa de banho, um bom jantar e uns mergulhos na piscina no Hotel. Uuuuuuuuuuuuiiiiii ca bom!
Saía claramente do buget diário e da mística da viagem mas que se lixe!
 Estavamos a precisar de um pouco de civilização e conforto nas veias... 
Serviria (serviu) como um elixir de força para o resto da viagem;)

Para o relax total fomos jantar a um restaurante afamado de Nampula, chamado Almeida Garrett, onde nos deliciamos com umas chamuças, uns bifes e umas jolas estupidamente frescas!
Abdicámos de conhecer melhor Nampula para termos mais tempo em realidades rurais e selvagens...
Demos uma volta de taxi para ver alguns spots da cidade e regressámos ao hotel.
O dia estava feito e a manhã seguinte seria também ela exigente... 
Teríamos que estar na estação por volta das 4h da matina.

Seriam 8h de comboio para Cuamba, interior bem interior de Moçambique em direcção ao Malawi.
O objectivo era ficar 2 dias em Cuamba (conhecer o dia a dia dos Leigos para o Desenvolvimento) e seguir para as verdejantes e imponentes paisagens de plantações de chá do Gurúè...
Siga!!!