quarta-feira, novembro 23, 2011

Tofo (a caminho da perfeição)

Por muito que nos tivesse sabido pela vida prolongar a estadia em alguns sítios (e como foi marcante a estadia em Vilankulo!), teríamos que seguir...
Foi assim toda a viagem.
Foi essa a dinâmica e o lema,  nunca comentado mas sempre subentendido. 
Essa é enorme vantagem (na minha opinião, vantagem fundamental) de se viajar com alguém que partilha os mesmos objectivos, alguém que já conhecemos de outras viagens e que funciona bem enquanto equipa.
Portanto, queríamos continuar a aproveitar os dias sem stress nem correrias mas bebendo o máximo de cada local e das experiências que a natureza nos ía proporcionando...

Mais 2 dias em Vilankulo seriam suficientes para tirarmos o curso Open Water Padi para mergulhar até 18mts.
Batemos com a cabeça na parede (grrrrr...seriam só mais 2 dias) e seguimos para o Tofo.
Bill deu-nos boleia até ao estacionamento, perto do mercado municipal, transformado em estação/paragem de taxis, chapas, camiões de transporte, autocarros.... As costas agradeceram a boleia.
Apanhámos 1 autocarro até Maxixe depois 1 barco para Inhambane e finalmente 1 chapa sobrelotado até ao Tofo.

Quando chegámos a esta pequena Vila piscatória marcada por uma enorme frente de areia branca, dunas imponentes manchadas de vegetação verde e mar a parecer o Atlântico (ondas...), encontrámos um pouco mais de comercio e alojamento do que nos locais anteriores.


Nitidamente devido aos habituais grupos de Sul Africanos que passam férias por aqui.
Sentia-se um potencial de festa e espirito de praia... Estava-se bem!
Felizmente, ou não, a época era calma e o Tofo estava "natural" e acessível.



Ficámos num bungalow de palha no Fatima´s Nest (mais à frente, deu-nos muito jeito termos ficado aqui alojados). 


Alugámos um dos bungalow mais baratos, literalmente situado em cima das dunas, virado para o mar.
Um pequeno luxo por um preço também ele pequeno.


Dormir ao som das ondas e acordar com esta vista compensava o facto de ter que partilhar o quarto com o António e não com uma sereia Sul Africana.
Enfim... Eu disse que a viagem foi excelente mas não 100% perfeita :)
Bem, estávamos nos últimos 4 dias da viagem e embora cansados, queríamos acabar em grande!

Seguimos para uma escola de mergulho a 200mts do campismo seguindo pela costa.
Percebemos que a nossa vontade desmesurada de voltar a fazer mergulho com garrafa não valia por si só para convencer os gajos da escola de mergulho. 
Não tínhamos experiência nem tempo para a conquistar. 
Seriam precisos, como em Vilankulo, pelo menos 2 dias intensivos de aulas. 
Sabíamos disso.
E aos olhos do dono da escola, a experiência de Bazaruto foi uma excentricidade sortuda...
Mergulhar às profundidades que mergulhámos sem curso foi uma pequena loucura.
Uma loucura boa demais para descrever!

Não desanimámos muito...
Uma das razões pelas quais o Topo é considerada como a capital de mergulho em Moçambique é o facto de em determinadas épocas do ano, a rota de migração de Tubarões Baleia passar por aqui, bem perto da costa.
Não pestanejamos, a época não era a perfeita, a probabilidade de nadarmos com um tubarão baleia não era alta mas existia embora pudéssemos só ver umas mantas ou tartarugas....



Siga a marinha!
Andámos quase 40 minutos na lancha rápida e não vimos nada a não ser uma manta ray tímida que afundou rapidamente quando nadámos na sua direcção...
O "Barnabé", olheiro de serviço, sentado numa cadeira elevada estilo baywatch estava com muita dificuldade em avistar a enorme mancha preta que nos poderia acelarar a pulsação.
O mar estava agitado, tinha muita suspensão e o céu com algumas nuvens. 
Barnabé estava lixado... E nós também!
O skipper comunicou que íamos voltar para terra pois os Deuses não estavam connosco.
Talvez Neptuno não tenha gostado do sotaque Sul Africano do skipper... 
Só sei que, quando já todos seguíamos desiludidos para terra, nos brindou com um belo tubarão baleia de 8 metros.
Lindo!
Pusemos rapidamente os óculos e barbatanas e saltámos para dentro de agua, num misto de respeito, excitação, medo e admiração por este tremendo animal.


O tubarão nadava lentamente, harmonioso quase sem esforço a pouca distância da superfície.
Fomos ganhando confiança e as distâncias encurtadas.
É um animal totalmente inofensivo (alimenta-se de plancton) mas o seu tamanho impõe respeito (pode atingir os 20 metros e as 13 toneladas de peso) e debaixo de agua esse efeito é ampliado...
Que belo animal!
A natureza não parava de nos surpreender com a sua perfeição e diversidade!


Não queríamos perturbar a sua rota normal.... 
Só queríamos gravar para sempre na memória aqueles minutos de perfeição.
Meu Deus...




Por 2 ou 3 vezes, o tubarão afundou alguns metros, voltando depois à superfície...
 Quero acreditar que foi para nos dar outra perspectiva do momento :)


No nosso barco seguia um investigador Australiano que desenvolvia um doutoramento sobre esta espécie.
Era uma nadador de apneia exímio, o sacana...
Tirava fotos com uma máquina xpto perfeita para o objectivo de pela distância e características das pintas do animal, calcular o seu tamanho, catalogá-lo/identificá-lo, entre outras informações possiveis de ler...



Foram cerca de 15 a 20 minutos a nadar ao lado deste tubarão baleia que nos tornou pessoas mais felizes e ricas...


Afundou uma ultima vez e o Barnabé e o skipper descrente chamaram-nos de volta ao barco.
Sem palavras!!
Pura magia...


Acabámos a manhã com um gostoso (hummm... gostoso, sim gostoso) caril de caranguejo e camarão e uma cerveja gelada.
Se a perfeição existe, senti-me muito perto dela neste dia!

sexta-feira, novembro 04, 2011

Vilankulo (a verdadeira descoberta do Indico...)

Passámos excelentes dias na Beira.... 
No conforto que só uma moradia familiar acolhedora nos poderia dar.
Descansámos, comemos lindamente e sentimos o legado português...

A viagem aproximava-se do fim e seguimos mais para sul. 
Fugindo da chuva e ficando mais perto do destino final - Maputo.
Queríamos muito conhecer o Arquipélago de Bazaruto e validar com todos os sentidos os cenários paradisíacos que nos descreveram.
Apanhámos um autocarro confortável estilo renex e bem cedo já estávamos na estrada.
Não teríamos € para ficar na ilha de Bazaruto, onde só existem uns quantos resorts luxuosos.
Ficaríamos em Vilankulo, uma pequena povoação piscatória que já possui condições turísticas muito aceitáveis....

Saímos do autocarro e partilhámos um chapa com Bill, um sexagenário Canadiano que trabalhou durante muitos anos para o ministério das pescas Moçambicano e que timidamente meteu conversa connosco na paragem do autocarro.
Íamos sem destino traçado em relação ao alojamento... 
Bill propões alugar-nos uma pequena casa/cabana anexa à sua moradia por um preço justo.
assim foi...
A cabana era humilde mas a vista compensava largamente.

Vista para a Baía desde a casa do Bill
No mesmo dia em que chegámos tirámos um rápido curso de mergulho com garrafa, num tanque duma pequena escola de mergulho gerida por um casal francês.
Seria um crime desperdiçar uma oportunidade única de mergulhar num dos melhores locais do Mundo para scuba diving.
Sem saber bem como, estávamos aptos a fazer 2 mergulhos no dia seguinte. Uaaaahhh!
Iríamos para uma zona chamada Two miles Reef entre das ilhas de Bazaruto e Benguerra.
Estava com altas expectativas e dormi pouco nessa noite....


O 1º mergulho superou as expectativas! 
Uma sensação inexplicável de flutuar, voar, uma tranquilidade e paz únicas...
Topo da cadeia alimentar!!! (como diria o Seu Jorge)
Foram 40 e tal minutos a 16/18 metros num mar azul turquesa "inundado" de peixes coloridos e corais de diversas formas e tamanhos.
Para que a experiência fosse realmente mágica, o Indicio proporcionou-nos um encontro com uma simpática tartaruga :) Bingo!
Por alguns segundos nadámos lado a lado e tocámos-lhe gentilmente.
É nestas alturas que a natureza nos esmaga completamente... 
Nada pode correr mal na vida quando temos oportunidade de sentir a sua força e beleza tão de perto...


Senti-me bem, muito bem mesmo... 
Estava tranquilo, contente, realizado, na força máxima dos meus sentidos...
Não sei... 
Acho sinceramente que há muito tempo não me sentia assim...



Antes do 2º mergulho, tínhamos 1h30 para almoçar e relaxar.
Ficámos na baía a descansar depois de termos partilhado umas latas de atum no pão com Stefano, o instrutor italiano que foi o nosso dive master. Um "puto" de 20 e poucos anos que já tinha tido a sorte de mergulhar nos mais extraordinários sítios do mundo.

Não deu para conhecer muito a ilha. Para tal teríamos que contorná-la de barco até ao lado onde se encontram os resorts.
Mas de cima das enormes dunas, a paisagem para qualquer direcção era lindíssima e antecipava a riquíssima vida animal que habita neste arquipélago protegido...


Ainda de largo sorriso na cara, seguimos para o 2º mergulho.
Íamos mais confortáveis e confiantes e correu tudo muito bem...
Durante o nosso mergulho, o dono da escola mergulhou com um casal de americanos mais experientes. Esse grupo teve a sorte de, a maior profundidade de nós, se ter cruzado com um tubarão touro.
Imagino a sensação!

Dia excelente este... Um dos melhores da viagem!


Terminámos com uma jantarada épica de filetes de peixe assado no forno (comprado na praia, cortado e cozinhado divinalmente pelo sacana do americano que fez mergulho connosco)  e muitas latas de cerveja gelada 2M...
A vida é bela, nós é que damos cabo dela;)