Por muito que nos tivesse sabido pela vida prolongar a estadia em alguns sítios (e como foi marcante a estadia em Vilankulo!), teríamos que seguir...
Foi assim toda a viagem.
Foi essa a dinâmica e o lema, nunca comentado mas sempre subentendido.
Essa é enorme vantagem (na minha opinião, vantagem fundamental) de se viajar com alguém que partilha os mesmos objectivos, alguém que já conhecemos de outras viagens e que funciona bem enquanto equipa.
Portanto, queríamos continuar a aproveitar os dias sem stress nem correrias mas bebendo o máximo de cada local e das experiências que a natureza nos ía proporcionando...
Mais 2 dias em Vilankulo seriam suficientes para tirarmos o curso Open Water Padi para mergulhar até 18mts.
Batemos com a cabeça na parede (grrrrr...seriam só mais 2 dias) e seguimos para o Tofo.
Bill deu-nos boleia até ao estacionamento, perto do mercado municipal, transformado em estação/paragem de taxis, chapas, camiões de transporte, autocarros.... As costas agradeceram a boleia.
Apanhámos 1 autocarro até Maxixe depois 1 barco para Inhambane e finalmente 1 chapa sobrelotado até ao Tofo.
Quando chegámos a esta pequena Vila piscatória marcada por uma enorme frente de areia branca, dunas imponentes manchadas de vegetação verde e mar a parecer o Atlântico (ondas...), encontrámos um pouco mais de comercio e alojamento do que nos locais anteriores.
Nitidamente devido aos habituais grupos de Sul Africanos que passam férias por aqui.
Sentia-se um potencial de festa e espirito de praia... Estava-se bem!
Felizmente, ou não, a época era calma e o Tofo estava "natural" e acessível.
Ficámos num bungalow de palha no Fatima´s Nest (mais à frente, deu-nos muito jeito termos ficado aqui alojados).
Alugámos um dos bungalow mais baratos, literalmente situado em cima das dunas, virado para o mar.
Um pequeno luxo por um preço também ele pequeno.
Dormir ao som das ondas e acordar com esta vista compensava o facto de ter que partilhar o quarto com o António e não com uma sereia Sul Africana.
Enfim... Eu disse que a viagem foi excelente mas não 100% perfeita :)
Bem, estávamos nos últimos 4 dias da viagem e embora cansados, queríamos acabar em grande!
Seguimos para uma escola de mergulho a 200mts do campismo seguindo pela costa.
Percebemos que a nossa vontade desmesurada de voltar a fazer mergulho com garrafa não valia por si só para convencer os gajos da escola de mergulho.
Não tínhamos experiência nem tempo para a conquistar.
Seriam precisos, como em Vilankulo, pelo menos 2 dias intensivos de aulas.
Sabíamos disso.
E aos olhos do dono da escola, a experiência de Bazaruto foi uma excentricidade sortuda...
Mergulhar às profundidades que mergulhámos sem curso foi uma pequena loucura.
Uma loucura boa demais para descrever!
Não desanimámos muito...
Uma das razões pelas quais o Topo é considerada como a capital de mergulho em Moçambique é o facto de em determinadas épocas do ano, a rota de migração de Tubarões Baleia passar por aqui, bem perto da costa.
Não pestanejamos, a época não era a perfeita, a probabilidade de nadarmos com um tubarão baleia não era alta mas existia embora pudéssemos só ver umas mantas ou tartarugas....
Siga a marinha!
Andámos quase 40 minutos na lancha rápida e não vimos nada a não ser uma manta ray tímida que afundou rapidamente quando nadámos na sua direcção...
O "Barnabé", olheiro de serviço, sentado numa cadeira elevada estilo baywatch estava com muita dificuldade em avistar a enorme mancha preta que nos poderia acelarar a pulsação.
O mar estava agitado, tinha muita suspensão e o céu com algumas nuvens.
Barnabé estava lixado... E nós também!
O skipper comunicou que íamos voltar para terra pois os Deuses não estavam connosco.
Talvez Neptuno não tenha gostado do sotaque Sul Africano do skipper...
Só sei que, quando já todos seguíamos desiludidos para terra, nos brindou com um belo tubarão baleia de 8 metros.
Lindo!
Pusemos rapidamente os óculos e barbatanas e saltámos para dentro de agua, num misto de respeito, excitação, medo e admiração por este tremendo animal.
O tubarão nadava lentamente, harmonioso quase sem esforço a pouca distância da superfície.
Fomos ganhando confiança e as distâncias encurtadas.
É um animal totalmente inofensivo (alimenta-se de plancton) mas o seu tamanho impõe respeito (pode atingir os 20 metros e as 13 toneladas de peso) e debaixo de agua esse efeito é ampliado...
Que belo animal!
A natureza não parava de nos surpreender com a sua perfeição e diversidade!
Não queríamos perturbar a sua rota normal....
Só queríamos gravar para sempre na memória aqueles minutos de perfeição.
Meu Deus...
Por 2 ou 3 vezes, o tubarão afundou alguns metros, voltando depois à superfície...
Quero acreditar que foi para nos dar outra perspectiva do momento :)
No nosso barco seguia um investigador Australiano que desenvolvia um doutoramento sobre esta espécie.
Era uma nadador de apneia exímio, o sacana...
Tirava fotos com uma máquina xpto perfeita para o objectivo de pela distância e características das pintas do animal, calcular o seu tamanho, catalogá-lo/identificá-lo, entre outras informações possiveis de ler...
Foram cerca de 15 a 20 minutos a nadar ao lado deste tubarão baleia que nos tornou pessoas mais felizes e ricas...
Afundou uma ultima vez e o Barnabé e o skipper descrente chamaram-nos de volta ao barco.
Sem palavras!!
Pura magia...
Acabámos a manhã com um gostoso (hummm... gostoso, sim gostoso) caril de caranguejo e camarão e uma cerveja gelada.
Se a perfeição existe, senti-me muito perto dela neste dia!