" Quando fotografava a ilha de França, vista do centro da ponte dos artistas, preparado como um fazedor de postais para a limpidez informativa da imagem sobre aquele lugar, uma mulher oriental atravessou-se diante de mim metida no seu mundo do qual nada sei.
A fotografia, que quis um lugar, encontrou uma pessoa, e hoje está no fundo do ecrã do meu computador e conta-me coisas abundantes sobre uma personagem perante a qual a minha imaginação acciona palavras.
É uma mulher feliz a que ali vejo. O passo decidido de quem está seguro do seu tempo. E é uma mulher a transparecer, por isso, é só remotamente desconhecida, porque aos meus olhos, e naquele fantástico segundo em que a paralisei, ela é uma identidade comum, um daqueles rostos aos quais assacamos identificações múltiplas com os nossos próprios sentimentos.
Quando descarreguei a fotografia para o computador, imediatamente tive a sensação grata de haver chegado a uma companhia mais importante. Essa companhia intangível mas significativa que algumas imagens são capazes de nos fazerem.
É uma mulher feliz a que ali vejo. O passo decidido de quem está seguro do seu tempo. E é uma mulher a transparecer, por isso, é só remotamente desconhecida, porque aos meus olhos, e naquele fantástico segundo em que a paralisei, ela é uma identidade comum, um daqueles rostos aos quais assacamos identificações múltiplas com os nossos próprios sentimentos.
Quando descarreguei a fotografia para o computador, imediatamente tive a sensação grata de haver chegado a uma companhia mais importante. Essa companhia intangível mas significativa que algumas imagens são capazes de nos fazerem.
Fiquei longo tempo a rever aquela mulher, lamentando talvez o ser-me impossível saber quem é e, em ultima analise, mostrar-lhe como por surpresa a vi naquele dia. Mas é também fascinante que me entre pela vida adentro assim mesmo, uma desconhecida que me afecta. Muito bela, a caminho talvez de, um dia mais tarde em novo acaso, me reencontrar.
Numa noite, por obra e graça do insondável do inconsciente, sonhei falar-lhe. Sentámo-nos na ponte dos artistas, dissemos todas as coisas banais sobre Paris, beijámo-nos.
Disse-me que se chamava Ikue Turi, que só pode ser uma variação delirante de Ikue Mori, a compositora maluca e genial de quem gosto, e eu disse, Valter Hugo Mãe. Sorriu. Era-lhe impossível pronunciar o meu nome completo. Falámos em francês e eu deveria ter repetido o meu nome mas disse, tenho saudades tuas, e ela respondeu, não consigo dizê-lo, contudo é um nome lindo.
Fiquei com saudades dela. De uma desconhecida que a minha cabeça inventa substancialmente e que numa imagem me deixou registo da felicidade serena, da beleza feminina, e da espontaneidade. Um retrato sem correspondência, eu sei, mas algo me diz que, por intuição, ela se pôs assim para mim; para o ínfimo momento em que eu poderia ter, como se ela me tivesse querido pertencer também.
O fim do verão é feito disto. Misturado com as nortadas que começaram a destruir-nos definitivamente as noites na esplanada e a sugerir a caseira fórmula da leitura de um livro e o passeio virtual pelos blogues. É feito disto que nos traz a nostalgia de um pedaço de nós sobreviver apenas em férias, um pedaço mais romântico, mais carente, à cata de coisas inexplicáveis e tão fora das regras organizativas do quotidiano.
Fiquei com saudades dela. De uma desconhecida que a minha cabeça inventa substancialmente e que numa imagem me deixou registo da felicidade serena, da beleza feminina, e da espontaneidade. Um retrato sem correspondência, eu sei, mas algo me diz que, por intuição, ela se pôs assim para mim; para o ínfimo momento em que eu poderia ter, como se ela me tivesse querido pertencer também.
O fim do verão é feito disto. Misturado com as nortadas que começaram a destruir-nos definitivamente as noites na esplanada e a sugerir a caseira fórmula da leitura de um livro e o passeio virtual pelos blogues. É feito disto que nos traz a nostalgia de um pedaço de nós sobreviver apenas em férias, um pedaço mais romântico, mais carente, à cata de coisas inexplicáveis e tão fora das regras organizativas do quotidiano.
O amor, ou a paixão fugaz, é uma estridente excepção ao quotidiano, como uma falha na realidade, por tanto quanto tem de difícil fazer-se explicar e, menos ainda, deixar-se dominar. Eu sei que, desta vez, o meu amor de Verão foi ainda mais breve do que os outros, eu sei, mas o importante é reconhecê-lo, e preservá-lo nessa memória cuidada das melhores coisas que nos acontecem e começar a preocupar-me com o amor de Inverno, mais duradouro, mais perto. "
Valter Hugo Mãe - em Ípsilon, Sexta-feira 7 Setembro 2007