domingo, fevereiro 20, 2011

Nampula-Cuamba

Chegámos tarde à estação, perto das 4h30...
O que foi sinónimo de grande dificuldade para encontrar 2 lugares sentados no meio da escuridão e com tanta gente a alimentar a azafama matinal da estação...  
Diariamente e de forma alternada, neste trajecto existem comboios de 3ªclasse ou 4ªclasse. 
Era dia impar, 4ª classe seria... Siga!
(Como seria o comboio 3ª classe? As casas de banho teriam porta? os bancos seriam mais confortáveis do que aqueles de madeira? Haveria luz? Pouco interessava saber...)
5h da manhã e iniciávamos a viagem de 10h rumo à poeirenta povoação de Cuamba, situada na província de Niassa.
Carinhosamente (ou não...) Niassa é apelidada pelos Moçambicanos como Fim do Mundo. :)
Esta "classificação" está, muito provavelmente, relacionada com o facto de ser uma província interior, remota e pouco populosa, meio selvagem e longe dos centros de decisão governamental.
Seguimos pois...
As 1ªs horas foram mais desconfortáveis porque a carruagem estava muito lotada de pessoas e todo o tipo de bagagens penduradas em todas as partes. 
Mas o desconforto foi largamente suplantado/compensado pelo pitoresco da situação, pela descoberta do trajecto e pela magia da experiência. 
Perdi a conta às dezenas de vezes em que o comboio parou.... 
Cada vez que parava um mundo novo nascia dentro e fora do comboio e um enorme mercado ao ar livre nascia num instante, rico em produtos, preços e trocas comerciais. Havia de tudo a diferentes preços....
A maioria das pessoas compram várias coisas durante este tipo de viagens. Sacos e saquinhos, muitos e diferentes...
 Quer seja para consumo imediato mas essencialmente produtos para levarem para o destino final. 
Na nossa carruagem até tartarugas pequenas foram compradas....


Uma das vantagens de termos feito escala (de bus e chapa, entenda-se) no dia anterior em Nampula foi a possibilidade de irmos a um supermercado bem apetrechado (preços muito semelhantes aos de Portugal) e prepararmos umas faustosas sandes de queijo cebola e tomate para a viagem de hoje. 
Caso contrário teriam sido 10 horas só a comer mangas e bananas. Sumarentas e muito deliciosas por sinal mas insuficientes para pseudo Joões Garcias como nós... 
A paisagem pouco se alterou na 2ª parte da viagem, a carruagem ficou menos cheio e deu para dormitar umas horas.


Nas ultimas horas de viagem começamos a perceber que entrávamos no "fim do mundo", destino Cuamba....
O castanho das estradas de terra era agora também marcado pelo verde no horizonte, montanhas assimétricas e um ceu enorme demais para os olhos.


Estávamos a entrar no verde, antes de entrarmos  de novo no castanho forte de Cuamba...


Entre o diferente mundo colorido dentro daquele carruagem e as paisagens lá fora, passaram-se 10 horas de viagem....
Chegávamos a Cuamba. 
Íamos ser bem mimados;)
Siga!!

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Pangane - Nampula (parte II)

Fomos rápidos na mudança, como se impunha, e ainda assim íamos ficando sem lugar...
Tirando o habitual calor desgastante, a viagem corria bem. 
Apanhámos uma espécie de mini bus barulhento (a sensação que o motor estava no lugar do lado era demasiado real para permitir dormir).
Perdi a conta às horas mas devemos ter andado umas 2 horas entre estradas de terra bem compactadas e troços de espécie de aslfato bastante esburacado quando existente...

Nestas viagens há situações que se repetem religiosamente:
 - o veiculo ser mandado parar num dos inúmeros postos de controle policial que existem (a razão e o numero de vezes que acontece num troço da viagem é algo completamente aleatório);
 - pararmos demasiadas vezes (em todas as aldeias e terriolas);
 -  venderem-nos todo o tipo de bebidas e comidas nestas paragens;
 - sermos "obrigados" a mudar de transporte num qualquer cruzamento.

Depois destas 2horas apanhámos um outro autocarro, tipo renex tunning com 20anos.
A viagem duraria mais 4 horas, aproximadamente...
 Em 1hora de viagem fomos mandar para 2 vezes pela policia.
Na 1ª vez um pequeno suborno por parte do motorista (habitual nestas viagens porque regra geral a carga e lotação é largamente excedida) foi suficiente para seguirmos viagem...
Porém qual não é o nosso espanto quanto somos mandados parar uma 2ªvez, poucos kms depois.
De nada valeram os apelos do motorista para que nos deixassem seguir viagem... 
1º um policia e depois outro entraram no autocarro. 2 policias prepotentes, autoritários e bem armados... Tivemos direito ao pack completo! 
Obá obá!!!

Percorreram o corredor na totalidade e voltaram para as filas da frente onde estávamos sentados.
Não só nos pediram o passaporte como nos obrigaram a retirar as nossas mochilas da apinhada bagageira colectiva na base do autocarro.
O António foi convidado/forçado a tirar tudo o que tinha na mochila peça por peça...
A esta altura todos os passageiros estavam cá fora a assistir ao espectáculo. E outros habitantes locais se juntaram também...

Enquanto isto acontecia eu tentava convencer o outro policia que não iria ver mais que roupa na minha mochila Freetime mirage 70 castigada das viagens anteriores (uns dias em Moçambique deterioraram-na mais do que 2 Interrails, uma viagem à Croácia e uma incursão pelo Rio Janeiro, Buenos Aires e Uruguai).

Retiveram-nos o passaporte durante meia hora e nos entretantos da palhaçada policial foram identificando mais 3 ou 4 pessoas (2 delas ficaram no posto e não seguiram viagem...).
Com calma, conseguimos reaver os passaportes e resistir ao atalho de os "tentar" subornar... 
O isco foi montado mas o facto de falarmos português e não termos nenhum objecto estranho serviu de escudo.

Seguimos viagem, na esperança de até Nampula não pararmos mais.
Fomos mandados parar mais uma vez 2horas depois, mas sem quaisquer consequências.
Cansados dos kms e completamente esfomeados chegámos à entrada de Nampula, em frente à estação de comboios. 
Ufa!

Sentimos imediatamente um ambiente hostil próprio das estações de grandes cidades.
Muita gente com olhares diferentes dos que tínhamos encontrado até agora... Tensão no ar.
Não perdemos tempo com deambulações supérfluas por aquelas bandas. 
A luz do dia perdia expressão, apanhámos um taxi até um hotel bem porreirinho que o António conhecia...
Merecíamos sem duvida um boa cama, uma boa casa de banho, um bom jantar e uns mergulhos na piscina no Hotel. Uuuuuuuuuuuuiiiiii ca bom!
Saía claramente do buget diário e da mística da viagem mas que se lixe!
 Estavamos a precisar de um pouco de civilização e conforto nas veias... 
Serviria (serviu) como um elixir de força para o resto da viagem;)

Para o relax total fomos jantar a um restaurante afamado de Nampula, chamado Almeida Garrett, onde nos deliciamos com umas chamuças, uns bifes e umas jolas estupidamente frescas!
Abdicámos de conhecer melhor Nampula para termos mais tempo em realidades rurais e selvagens...
Demos uma volta de taxi para ver alguns spots da cidade e regressámos ao hotel.
O dia estava feito e a manhã seguinte seria também ela exigente... 
Teríamos que estar na estação por volta das 4h da matina.

Seriam 8h de comboio para Cuamba, interior bem interior de Moçambique em direcção ao Malawi.
O objectivo era ficar 2 dias em Cuamba (conhecer o dia a dia dos Leigos para o Desenvolvimento) e seguir para as verdejantes e imponentes paisagens de plantações de chá do Gurúè...
Siga!!!

terça-feira, novembro 09, 2010

Pangane - Nampula

Fim de dia em Pangane...
Algumas nuvens no horizonte e aos poucos um pôr do sol imponente que marcava as cores alaranjadas nos dois lados da fina aldeia rodeada de mar.
Tinhamos vontade de dar um mergulho mas a maré vazia transformada em casa de banho da aldeia acalmou-nos o impeto...


Por indicação dos pescadores chegámos à casa do Hashim. Seria a única opção para dormir...
Hashim só chegaria à noite, vindo do trabalho como "taxista de chapa". O trabalho na fabrica de transformação de peixe já tinha vivido melhores dias...
A sua mulher mostrou-nos as 3 cabanas que tinha para alugar.
Paredes de pedra empilhadas numa estrutura de canas enfiadas na areia, um telhado de colmo e uma janela feita de cartões.
Perfeito para uma noite, pensámos...

Combinámos um preço para o aluguer e os dois filhos trouxeram-nos redes mosquiteiras e lençois para as "amostras" de colchão embrulhados em plástico.
O mais novo fez questão de nos mostrar o seu brinquedo predilecto e exigir uma foto...
Tudo tão simples e genuino que nos deixa desarmados e com um sorriso de querer fazer algo mais para melhorar o futuro destas crianças...


Explorarámos a outra parte da aldeia com o filho mais velho como guia... E chegámos esfomeados!
Pedimos jantar. Para não variar seria arroz branco aromático com caril caseiro de peixe.
A fome era muita, a exigência pouca mas o jantar servido naquela mesa de plástico, na areia da "nossa" cabana soube maravilhosamente bem...
Antes apareceu Hashim (corpulento, aspecto arabe, cara fechada mas muito simpático) e o seu ajudante José que se comportava como um criado da roma antiga.
José trouxe-nos 2 baldes de agua e uma colher concha grande para tomarmos banho e uma lamparina. Seria também o guarda nocturno da nossa cabana...

Hashim confirmou que sairíamos às 4h30 (ui...) da manhã desde o centro da aldeia.
Iríamos na traseira do seu camião 4 x4 até o mais perto possível de Nampula.
O mais provável era termos que ficar algures num cruzamento interior a meio viagem onde passariam outros chapas, outras pick ups, camiões, autocarros, motos, e muita muita gente vinda do meio do nada a caminho não sei da onde...

Estávamos cansados do sol que apanhámos no barco e a precisar de dormir, ansiando através do sono recordar para sempre o festival de cores e peixes que vimos nas Quirimbas.
Complicado... Muito complicado...
Não poderíamos estar mais longe dessas visões paradisíacas!
O oscar para pior noite da viagem, com maioria absolutíssima, foi directo para Pangane.
As redes mosquiteiras estavam furadas em inúmeros pontos, os mosquitos eram muitos (mesmo muitos e agressivos), o calor bastante húmido e apesar dos sacos cama os colchões plastificados eram estupidamente desconfortáveis e comichosos...
A meio da noite ainda tive a sorte de ver um rato a passear pela parede da cabana, tratando-a por casa.
Quem não apanhou malária naquela noite, estaria safo para o resto dos kms em Africa, pensei...
A duvida de contagio foi um euromilhões Africano que nos acompanhou nos restantes dias... :)
Convém referir que só o mosquito fêmea é propagador de malária. (Onde é que eu já vi isto...)
Nunca pensei ser possivel abominar tanto a imagem de ser, a meio da noite, atacado por dezenas de persistentes fêmeas...
Foi portanto com bastante alivio, diria mesmo alegria suprema, que ouvimos o José bater à porta para arrumarmos a trouxa.
Pouco passava das 4h e era ainda noite cerrada.
Rapidamente a traseira do camião de Hashim encheu-se de barrotes de madeira, varas de ferro, sacos, malas, homens mulheres e crianças.
Sáltamos lá para trás e numa luta silenciosa tentámos garantir espaço para os pés e para as mochilas...Fez-se dia!
Não havia tempo a perder... As dunas esperavam!


O camião circulava a uma velocidade impressionante, saltando destemido por estradas esburacadas de areia, terra, lama...
Naquele contexto não é possível pensar em acidentes...
Para uma viagem deste tipo todos os males e imprevistos que possam acontecer têm sempre que ser relativizados e afastados do razoavel.
Só assim se consegue vibrar por completo com a magia de Africa!
E que magia bonita...

A paisagem ía mudando à medida que nos afastávamos da costa.
Passámos de uma paisagem de pequenas aldeias piscatórias à beira mar, estrada de areia rodeada de palmeiras esguias com macacos de pequeno e médio porte, para vegetação verde densa, estrada de terra batida castanha forte, palhotas isoladas e mais pessoas a andar à beira estrada sem destino aparente. Algumas pessoas de bicicleta mas a larga maioria a pé, descalças...
Como habitual até aqui, a grande maioria dos caminhantes esbuçava um 1º olhar timido para nós, seguido de um largo sorriso e um adeus misto de muita admiração e algum gozo.
Não é normal ver ocidentais sujeitarem-se aos transportes locais (transportes muito locais no caso concreto do itenerário pouco turistico da nossa "expedição").
Qualquer estrangeiro que se aventura a enfrentar o interior Moçambicano e as suas estradas de terra, regra geral tem: Dinheiro, Conhecimentos importantes no País e Bom Senso. Viajam num jipe ou numa pick up particular preparada para o efeito. É outro patamar de conforto, segurança e autonomia...
Nós não tinhamos nenhuma das 3 coisas... E assim seria a viagem, ao sabor das aventuras que daí adviriam.

Umas 4 horas depois chegámos a um cruzamento (o tal que já antecipámos...) no meio do nada, sujo, com oscilações curtas de muita gente/muito movimento e longos calmos silêncios...
Rapidamente despedimo-nos do hospitaleiro Hashim e trocámos um sincero até qualquer dia.

Tomámos o pequeno almoço (um chá e uma espécie de fartura bem oleosa para aguentar as horas que faltavam até Nampula) numa barraca de madeira muito concorrida enquanto esperávamos pelo autocarro que com sorte nos levaria directos (ai...ai...) sem ser necessário trocar noutro qualquer cruzamento poeirento....

Chegou...
Rápido!.. (nestas mudanças não dá para vacilar ou corre-se o risco de ir em pé umas horas...), mochilas para cima do autocarro, uma coca-cola semi-fresca regateada à janela com um vendedor ambulante, mais 5 a 6 horas e estava feito;)
Pela frente ainda tínhamos uma viagem com um percalço policial, pelo visto bem típico no continente africano...
Siga!!

terça-feira, julho 06, 2010

Arquipélago das Quirimbas - Pangane

Pouco passava das 6h quando começou o nosso dia...
Era altura de colocar as mochilas às costas e deixar para trás os agradaveis recantos do Miti Miwiri, espaço que nos acolheu com conforto e simpatia.


Á porta do Hostel já o pescador que nos levaria de barco até Pangane (uma pequena vila piscatória mais a norte, no continente) esperava por nós.


Já se sentia o calor abafado e a humidade a agigantarem-se aos poucos, sem pedir licença e relembrando uma e outra vez que estávamos em África.

Tivemos o descernimento de, na noite anterior, pedir à cozinheira 2 sandes de queijo com cebola e 2litros de agua para a viagem que levaria cerca de 4horas...
Tínhamos oculos de mergulho, muita vontade de ver mais corais, peixinhos e peixões mas faltavam as barbatanas.
Fomos "forçados" a cometer a ousadia de acordar o Helder (dono do Hostel) de uma ressaca ainda em fermentação da longa noite anterior :)
Mas garantimos o pack completo para um dia perfeito no mar.

Seguimos para a baía de Ibo onde nos esperavam mais dois pescadores/marinheiros e um barco de madeira.
Iríamos a motor toda a viagem... Eles regressariam à vela, se as condições fossem as habituais naquele trajecto.

O combinado era pararmos em 3 a 4 sitios bons para snorkeling.... E assim foi!
A 1ª paragem foi num banco de areia.
No meio do nada aparecia aos nossos olhos uma pequena lingua de areia branca a ganhar espaço à tépida agua azul turquesa que a rodeava...



A vida animal concentrava-se a pouco metros do banco de areia.
Maravilhoso 1º mergulho a abrir o apetite para o resto da viagem.

Seguimos viagem a motor com o sol a queimar as costas e o mar sempre a chamar-nos....
Iamos passando por algumas ilhas desertas paradisicas, algumas com pequenos Lodges de Luxo com privacidade absoluta (alojamentos tipo palhotas/cabanas com muito conforto e mordomias hollywoodescas) só ao dispor de muito pouco carteiras...



Proxima paragem Ilha das Rolas, conhecida pelos seus caranguejos gigantes (podem atingir 60cm) que se alimentam dos coqueiros.
A visão da chegada à ilha não podia ser mais idílica.
Linda!!
(Durante 2 a 3 segundos vi a Brooke Shields, adolescente, versão lagoa azul a nadar nua com golfinhos sorridentes)


Na ilha só vive o guarda do parque nacional, rolas e os tais caranguejos que segundo toda a gente com que falámos possuem poderes mágicos...
O guarda alertou-nos para isso quando lhe perguntámos, no gozo, se poderiamos levar um para fazer uma sopa.
Sem se rir disse-nos que iriamos ter problemas muito graves durante a viagem...
Bem, decidimos, pelo sim pelo não, não arriscar... :)

Devido às elevadas temperaturas, a maioria dos caranguejos estavam refugiados nas rochas mas ainda conseguimos ver uns "juniores" que por não terem espaço nas rochas nem força para se afirmarem se encontravam abrigados na vegetação do interior da ilha.


Completámos o passeio completo a pé , fizemos mais uns mergulhos num dos lados da ilha,aproveitamos a maravilhosa paisagem e seguimos viagem...




O objectivo era Pangane e os homens ainda teriam que fazer a viagem de regresso com uma maré diferente e com condições de vento ainda indefinidas.

O mergulho mais brutal (o ultimo) foi em frente à ilha de Vamizi.
A 4 metros de profundidade um enorme coral desenvolvia-se por várias dezenas de metros e albergava uma palete de cores de plantas, peixes, estrelas do mar, medusas, ouriços, camarões...
Aproveitámos bem e só saímos da agua perante a insistência do capitão do barco para seguirmos viagem.
Seguimos,teve que ser, mas não esquecerei a brutalidade de cores e variedade de vida marinha que vi naquele mar...


Cerca de 2h depois já deslumbravamos ao longe Pangane...
Nesta recta final foi frequente ver alguns miudos a fazer pesca submarina em apneia só com um pequeno pneu à superficie e artefactos manuais.

Pangane aos nosso olhos - uma pequena e caricata aldeia piscatória onde seria possivel (em principio...) apanharmos boleia num chapa e iniciar a nossa viagem em direcção a Nampula, a 2ª maior cidade do País depois da capital Maputo.
De lá seguiríamos em comboio (ui ca bom...) para o interior do País rumo a Cuamba e às plantações de chá nas montanhas do Gurué.


Num gesto pequeno burguês os ajudantes do comandante do barco fizeram questão de nos levar as mochilas até à casa de um pescador que nos alugaria uma cabana bastante sui generis.
Desta vez os nosso ombros fustigados pelo sol e pelos transportes moçambicanos seriam poupados...:)

A ideia era permanecer apenas uma noite na aldeia, tratar de tudo no mesmo dia (hoje) e seguir viagem no 1º chapa sem perder tempo.
Amanha às 4h30 da manhã teríamos mais uma grande viagem na traseira de um camião de caixa aberta... Siga!!

terça-feira, maio 18, 2010

Ilha das Quirimbas - Ibo

O titulo desta viagem podia ser simplesmente: Ilha das Quirimbas - Ibo
ou então A aventura fim de dia de 2 Sandokans...
Entrámos para o pequeno barco/jangada de pesca.
Seguimos na frente do barco sentados em cima de redes de pesca, Mahomed no leme e os dois pescadores um pouco mais à frente, lado a lado para contra balançar o peso...
1ª tentativa para seguir à vela não correu bem. A vela feita de plásticos colados e cosidos uns aos outros não tinha vida, apesar do vento...
Com a desculpa que o vento não era ainda suficiente devido à proximidade da costa, saltámos para a água e empurrámos o barco até atingirmos uma profundidade de 1 metro de altura.
Aos poucos, já estávamos bem afastados da ilha.
Os pescadores remaram mais um pouco e nova tentativa de içar e seguir à vela...
A falta de jeito para o oficio de velejar era quase pornográfico.
Foi nesta altura que Mahomed recuperou o seu nervosismo, tentou também ele aproveitar o vento mas sem sucesso...
Percebemos que Mahomed se insurgia perante a incompetência dos pescadores.
Falavam numa língua nativa.
Os pescadores (provavelmente apenas ajudantes de pescadores...) não eram de Moçambique mas sim naturais do Zimbabue, terra sem mar...
O tempo ía passando, o fim de dia caía e nos lá íamos andando a remos, só a remos, ao sabor da força de braços dos dois ajudantes de pescadores.
No inicio relativizámos a coisa, relaxámos um pouco, aproveitámos a paisagem e a visita de uma tartaruga que mergulhou bem à frente da amostra de barco em que seguíamos a remos, só a remos...
Mas, novamente, o tempo ía passando, o fim de tarde caía, e ainda nem sequer tínhamos entrado no canal de matagal e mato que tínhamos percorrido a pé nessa manhã...
Começamos a perceber que se queríamos chegar a horas decentes a Ibo, ou simplesmente chegar, tínhamos que dar também ao cabedal e remar.
Cerca de 1hora mais tarde entrámos finalmente no canal, ladeados da tal vegetal densa...
Nunca estive no Pantanal Brasileiro, mas a paisagem não deve andar longe.
Ficámos animados...Uma parte da viagem estava percorrida.
O animo durou uns 10 segundos até à 1ª picada de mosquito, seguida de uma 2ª picada quase em estéreo.
O simpático canal da manhã tinha-se transformado num ecossistema perfeito para os mosquitos que aos nossos olhos, se riam dos comprimidos semanais da profilaxia da malária e do pequeno repelente que trazia na mochila...
Tirando Mahomed que seguia ao leme totalmente resignado, todos seguíamos a remar forte enquanto os Zimbabuenses cantavam à procura de mais energia, suponho...



A noite caía, pois claro...
Já tínhamos passado o limiar da dor de braços, já não os sentiamos e seguiamos em piloto automático relativizando tudo o que poderia estar relacionado com a dor.
Ao longe, no continente, uma paisagem maravilhosa.
No horizonte uma enorme tempestade com relâmpagos de uma dimensão que nunca tinha vista ameaçava a parte final da viagem.
É esta a força de Africa!
Tudo nesta natureza tem outra força e dimensão...
Mahomed dizia que faltava cerca de 30minutos. Nós sabiamos que a resposta queria dizer que só daqui a 1hora estariamos em Ibo.
Cerca de 1h30 depois, noite cerrada, guiados por pequenas luzes em terra, chegávamos finalmente a Ibo.
Helder (o dono do hostel) esperávamos com uma lanterna no pequeno cais da ilha, preocupado e a disparar perguntas sobre o porquê da demora...
Saimos e pagámos um pouco menos do que o combinado, porque sentimos que o sucesso da viagem dependeu também do calo das nossas mãos e não, conforme acordado, da força do vento...
Aí a coisa aqueceu um pouco com os pseudo pescadores, ajudantes de pescadores melhor dito...
Helder e Mahomed acharam justo a nossa leitura, fria apesar da fadiga e lideraram a discussão.
Seguimos para o hostel, enquanto o Helder resolveu o braço de ferro com um refrigerante para cada um dos ajudantes.
A hora já era avançada mas por sorte ainda conseguimos uma sopa de caranguejo divinal e um caril de camarão estupendo com um croquete de frango, manga e batata doce...
Literalmente soube pela vida!!

Como não podia deixar de ser, mandámos abaixo algumas laurentinas Premiun (a melhor cerveja local) bem frescas para repor o nível de descontracção e bem estar para o resto da noite;)
Partiríamos no outro dia, noutro barco (este a motor), para outras paragens e para uma viagem de 4horas de mar, mergulhos e paisagens cristalinas...
Era tempo de descansar, ao som da chuva forte e quente que nos entretantos atingiu a ilha...

sexta-feira, maio 07, 2010

ilha das Quirimbas

Cansados da caminhada e com bastante fome... Mas a vontade de explorar o "tal canal" onde os miúdos locais mergulhavam à procura de lagostas, camarões e polvos era mais forte naquele momento...
A visibilidade não era perfeita mas já tinha alguma profundidade e vida animal para saciar a nossa imensa vontade de conhecer os segredos do oceano Indico.

Assim que nos viram a rapaziada que pescava aproximou-se, ainda de forma tímida...

Em África (ou pelo menos neste "tipo" de África...) a máquina fotográfica tem um poder transcendental mágico.
A máquina foi o desbloqueador de conversa para falarmos sobre tudo.
Como é lógico e mais que justo (seria quase uma falta de respeito nossa não fazer parte daquele momento mais deles que nosso...) todos quiseram tirar várias fotos. De grupo, individuais, com e sem mascara de mergulho, etc...
.
Quiseram ver as fotos no imediato segundo, saber onde já tinhamos estado e ver todas as fotos da viagem....
Riam-se, riam-se...Riam-se muito. Riam-se com uma inocência desarmante.
Mostrei-lhes as fotos dos meus pais, do meu irmão e do meu cão.
Deliraram com todos os pormenores que as fotos deixavam ver de uma realidade muito diferente.

Mahomed também gostou de momento e delirava (embora de forma mais contida) com as fotos familiares...Mas cumpriu o seu papel de "chefe" da expedição. Lembrou que o almoço já deveria estar pronto. Tinhamos que ir...

As opções eram muito pouco. Ou peixe assado com arroz ou caril de peixe com arroz....Na casa do pescador atacámos o caril como se não houvesse amanha.
Convidámos Mahomed para partilhar o almoço connosco.

Era difícil perceber como aguentaria tantas horas sem comer, mas era precisamente isso que iria acontecer numa situação "normal"...

Com outra força e disposição, demos uma volta pela ilha... A paisagem era semelhante aquela que já tinhamos visto noutros pontos de Moçambique.

Casas com paredes de cana, pedras, cal queimada e terra e telhados de colmo ou folhas de palmeira, ruas de areia e muita criança a brincar... Ao contrário da Ilha de Ibo, sem ser a igreja deixada pelos portugueses e a escola, não existiam casas ou edificações em tijolo (com na maior parte do País).


Os habitantes vivem essencialmente daquilo que pescam. O que não é consumido na altura é seco para mais tarde... Vimos várias estruturas de madeira para secagem do peixe e do polvo.

O fim da tarde aproximava-se com a mesma velocidade com que o sol nascera. Era tempo de preparar a viagem de regresso a Ibo.

Fomos até ao largo junto à costa onde os pescadores se juntavam para negociar um barco que nos levasse de regresso. A maré já estava bem cheia e o caminho impossível de ser feito a pé.

Coincidimos com a chegada dos barcos tradicionais de pesca e com a descarga e distribuição do peixe pelas famílias dos pescadores.

Mahomed estava a ficar nervoso com o escurecer do dia e com a dificuldade em conseguir, por bom preço e fiabilidade, um barquinho para Ibo.

A maioria dos pescadores olhavam para nós sem grande entusiasmo, olhos vermelhos e baços de um dia de mar e da erva que fumavam para aguentar o dia...

É normal passarem um dia inteiro no mar em que o único alimento é uma bebida tradicional feita de aguardente, leite de coco e água.

Conseguimos finalmente um barco de pesca com dois pescadores e uma vela feita de um retalho de vários plásticos.

Mahomed tinha razão em estar nervoso... Mas seguimos!

terça-feira, março 02, 2010

Ibo - ilha das Quirimbas

Tínhamos, depois de muito suor, chegado ao parque nacional das Quirimbas...
Na ilha do Ibo arranjámos um alojamento muito porreiro numa antiga casa colonial restaurada chamada Miti Miwiri (significa Duas Árvores em linguagem indígena) , propriedade de dois jovens (um Alemão e um Francês com descendência Portuguesa/Moçambicana) e acordámos (depois de uma boa noite de sono) revigorados com a sensação que a verdadeira jornada por terras Moçambicanas ía começar...

Mahomed, o nosso guia local para aquele "passeio", já nos esperava há 2 horas na entrada do hostel...
Deveríamos ter saído mais cedo mas o conforto do quarto e o cansaço acumulado foram um binómio difícil de conjugar com despertares matinais cedo, muito cedo...
Por estas bandas o dia e o sol nascem às 5h e o calor instala-se sem pedir licença.
Deveríamos, de facto ter saído mais cedo...
A maré já estava a subir e tínhamos uma caminhada de 2 horas para fazer em terrenos desconhecidos, alguns deles já com 1metro de altura de água.
Assim se justificada a obrigatoriedade de termos um guia. Um guia local...

A 1ª parte da caminhada, cerca de 1 hora foi feita num pequeno canal por onde a maré subia, contornando o matagal e vegetação mais densa. O terreno era ludouso e meio traiçoeiro....


Mahomed começou tímido, mais preocupado em manter uma passada ritmada e consistente: Todos os(as) moçambicanos(as) têm uma forma muito sui generis de andar... Parece que se movem sem grande esforço e a uma velocidade reduzida mas têm uma cadência forte o que torna o andar rápido e nada relaxado..., mas depois de "puxarmos" por ele, mostrou-se comunicativo...
Contou-nos a historia da ilha, contou-nos a sua própria história e a história que queria escrever no futuro...
Mostrou-nos a fauna e a flora, com todos os pormenores a que tínhamos "direito".
A determinada altura do caminho, chegámos a uma grande clareira de areia. Areia lisinha a perder de vista... Faltava pouco, segundo Mahomed.
Era só dobrar a paisgem e começaríamos a ver o destino - Ilha das Quirimbas.Foi mais 1h30 a andar...
Pelo caminho fomo-nos cruzando com pequenos grupos de pessoas, sempre carregadas e sempre com a tal passada ritmada sem vacilar...
Faziam como nós a travessia entre as duas ilhas.


Mais uma vez confirmamos a tese de que em qualquer parte recondida de Moçambique iremos sempre encontrar alguém a andar para alguma parte.
A maré, aos poucos ía subindo.
Entrando devagar por pequenos canais que ía desenhando na areia...
E aos poucos fomos vendo a ilha mais perto.
O sol estava alto, forte...
Precisávamos de uma agua fresca e um prato quente para acalmar os sentidos.


Mahomed, garantiu-nos que muito provavelmente íamos conseguir (apesar de já ser tarde e estarmos a chegar sem qualquer aviso...) comer qualquer coisa na casa de um pescador local logo à entrada da ilha.
O plano seria tentar conseguir qualquer coisa para comer e enquanto o pescador desenrascava almoço fazer uns mergulhos num canal com pequenos corais que existia no lado esquerdo da ilha...
......

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Pemba - Ibo (arquipelago das Quirimbas)

Deixámos Pemba bem cedo.
Nada de relevante a declarar... (Para além do bem que soube voltar a beber uma cerveja gelada com um grande amigo de longa data, Gipsy Pijas)
Uns dias de chuva antes da nossa chegada foram suficientes para escurecer o mar de Pemba e nos tirar a vontade de permanecer mais do que um dia por estas bandas.

Eram 4h30 da manhã quando apanhámos o táxi para a estrada à saída de Pemba onde a maioria dos chapas, táxis, carrinhas, camiões, autocarros param...

Apanhámos o ultimo chapa com destino à povoação mais perto do barco que nos levaria para o idílico arquipélago das Quirimbas, também conhecido por as caraíbas de África.

Entrámos/atirámo-nos para o interior do chapa.
Nas traseiras de uma carrinha de caixa aberta tapada por plásticos em cima de uma estrutura de bambo não havia espaço para nada. Literalmente para nada, pensámos...
Entre homens, mulheres, crianças, sacos de milhos e arroz, fruta, madeira e bagagem dos passageiros, conseguimos arranjar uma nesga de espaço para sentar, bem no meio, em cima de sacos de farinha e sem direito a qualquer encosto... Tinha que ser! E foi...

(Se duvidas ainda existissem elas foram dissipadas naquele segundo - Estamos mesmo em África. Não na África do Sul mas África..Quem quer ar condicionado, internet e um cafézinho do starbucks é melhor ficar fora...)

Foram 8 sofridas horas de viagem.
Ninguém se queixava do que quer que fosse, nem os mais velhos nem as crianças... Impressionante a capacidade de sacrifício desta gente, pensava eu enquanto tentava ganhar um pouco de espaço para conseguir pôr o pé esquerdo em cima duma esteira enrolada.

Num calor intenso , e tenso da viagem, chegámos a uma clareira de terra à beira de um canal onde só existiam duas casas/palhotas/cabanas e um enorme emboeiro.
A maré estava vazia e assim nada feito...
Teríamos que esperar mais 2 horas pela subida da maré.
Esperámos, sem alternativa, pela água enquanto um grupo de miúdos nos rodeava com uma curiosidade ávida de novidades...

Aos poucos, sem nenhum sinal, começamos a ver mulheres com enormes pesos na cabeça a andarem passada lenta mas ritmada em direcção ao canal.

O barco de pesca de madeira esperava-nos...
Durante 20 minutos o pequeno barco foi enchendo de pessoas e de carga até não se vislumbrar um único centímetro de madeira do barco.
Perguntei, a rir, ao homem do motor se não era peso a mais...
Olhou-me muito calmamente, esboçou um sorriso como que respondendo ao meu riso, e respondeu-me que o barco levava até 8 toneladas de peso... (Pois, pois... - pensei eu...Siga!)

Depois de duas horas a navegar entre canais de matagal a lembrar paisagens amazónicas, pequenas ilhotas totalmente preenchidas de verde, chegámos finalmente à ilha do Ibo.

Uma garrafa de água, um pacote de bolachas e 13 horas de viagem depois - IBO...
Só me vinha à cabeça a frase chavão que um guia disse ao Pijas durante a subida do Kilimanjaro. Qualquer coisa como: - "Pain is temporary, glory is eternal!"

Pelo caminho o castanho da água e a pouca visibilidade tornou-nos cépticos quanto à opção tomada de visitar as Quirimbas...Huummm, queremos mais que isto!

Estávamos muito cansados, esfomeados, sujos e com muita vontade de relaxar, dar uns bons mergulhos em águas cristalinas, ver peixinhos e peixões....
Não poderíamos estar mais errados!

Assim que encontramos alojamento, saciámos a fome com 2 mangas docissimas e demos um revigorante mergulho nas águas quentes e transparentes do lado oposto da ilha... Linha!

O paradísiaco arquipélago das Quirimbas, banhado por mares azul turquesa e uma vida marinha riquíssima começava-se a compor aos nossos olhos e a prometer um grande dia seguinte;)
Siga para Bingo!

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Lx - Maputo - Pemba

Viajar é partilhar emoções e momentos mas também é um acto de um certo reencontro interior que nos "obriga" a crescer com as experiências...

Quero partilhar o melhor das minhas ultimas semanas, ao mesmo tempo que me obrigo a clarificar por escrito o que vivi. Também para que no futuro possa de forma fundamentada relembrar com um sorriso as diferentes situações...
Nos próximos dias (talvez semanas) vou tentar pôr em palavras as aventuras de 18 dias a viajar por Moçambique...
Norte a Sul, praia, ilhas, mergulhos, cascatas, interior, montanhas, pó, sol, calor, verde, plantações de chá/tabaco/milho, camarão com arroz, estradas esburacadas e um povo muito simples e genuíno que se farta de andar a pé...

Foi tudo o que precisava neste momento. O tal balão de oxigénio aditivado!
Soube a pouco, como sabe sempre a pouco o que nos preenche daquela forma especial... Mesmo quando tudo vai acontecendo a um ritmo diferente com cenários, paisagens e realidades que levam os sentidos a uma outra dimensão. Diferente sem duvida... Africa é Africa!

A opção foi iniciar a aventura em Pemba, uma cidade portuária no Norte do país.
Seria o ponto certo para começar a viagem, fazer uma abordagem a norte e depois ir descendo para sul com um ou outro desvios para algumas zonas no interior...

Na viagem de Maputo para Pemba tive um primeiro contacto aéreo com o paradisíaco arquipélago de Bazaruto...
Na sonolência de 10horas de voo estava longe de imaginar que duas semanas mais tarde faria 2 fantásticos mergulhos com garrafa naquelas águas azul turquesa.


A parada estava alta... E o bom tempo acompanhou-nos;)


sábado, janeiro 16, 2010

10, 20, triiiinta.....Feel alright!!!!

See our friends, see the sights, feel alright;)

terça-feira, janeiro 05, 2010

Estes Senhores não brincam em serviço....
Mais um grande som hipnotizante do enorme ultimo álbum, num video feito para a MTV massacrar em toda a Tv do Mundo.

Faz pensar que muita gente (importante) deveria entrar em 2010 com objectivos/desejos diferentes dos que "gastou" nas 12 passas alcoolizadas.

quinta-feira, dezembro 24, 2009

;)

BOM NATAL!!
E mais não digo....

P.S. - J.Casablancas anda hiperactivo e fez/arranjou esta simpática musiquinha de Natal (vou pouco à bola com musicas de Natal. Prefiro musiquinhas. São mais frescas e não cansam tanto...)

Não há Strokes mas há J.Casablancas

Julian Casablancas tem album novo, desta vez a solo.
Os Strokes estão em standy by (espero que por pouco tempo...) mas este rapaz chegou-se à frente....
A julgar pelo single 11th Dimension, vem aí uma granda prenda de Natal;)

sábado, dezembro 19, 2009

Dá?

Ontem à noite (é possível que este cenário se repita nos próximos dias face ao elevado nº de jantaradas épicas de Natal a decorrer...) a brigada de transito efectuou operações stop em vários pontos de País.
Até aqui nada de novo...

A novidade estava na postura natalícia dos agentes da autoridade que perante um condutor (com menos de 30 anos) com todos os documentos válidos, viatura legal sem problemas e zero % de álcool no sangue, lhe ofereciam uma t-shirt e um vale de gasolina no valor de 25€.
Fantástico!

A minha questão é só uma:
Na estação de serviço posso trocar o vale de 25€ de gasolina por uns packs de cerveja de lata para malta beber durante a viagem? ;)

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Linguagem e imagens opacas

Tenho o hábito, apelidado de péssimo por alguns e nem tanto por outros, de acumular jornais que, por uma razão ou por outra, não consigo acabar de ler no timming correcto...

Fico cada vez mais com a noção de que há uma repetição e ciclicidade na maioria das noticias, realidades e acontecimentos que preenchem o mediatismo dos meios de informação... Muitas vezes em deterimento dos grandes temas internacionais e/ou temas locais de real importância.
O que se torna perigoso porque a noticia deixa de ser noticia e o conteudo é substituido por uma repetição, intuitivamente relativizada pelo leitor/espectador.

É facil sermos atirados para um novelo de pormenores secundários para que a tal noticia pequenina (no conteudo) e igual a muitas outras se torne, aos olhos do espectador, interessante... A TVI tem um mestrado nesse capitulo.

Ontem encontrei um pequeno texto, no suplemento Actual do jornal Expresso de há umas largas semanas, que me captou a leitura.
Poderia mesmo ter sido escrito há vários anos que, infelizmente, continuaria a ser actual. Seria fastidioso apresentar exemplos práticos que o confirmam, tal é o seu volume por demais evidente...

Mas o que me captou no texto que passo a transcrever a seguir foi a lucidez com que avalia o estado da justiça actual e a imagem com que ficamos da complexidade defensiva e confusa do discurso judicial.
Também aqui a repetição e ciclicidade de formas erradas de comunicação e discurso são sinónimo de opacidade preocupante...


Sobre a linguagem opaca do corpo judicial - ANTÓNIO GUERREIRO

"Nas parábolas de Kafka, a máquina infernal que arrasta as personagens para situações sem saída tem a forma de uma linguagem indecifrável ou causadora de equívocos.
Exemplo supremo é a personagem que fica até ao fim da vida à porta da lei, por ignorar que, afinal, ela está aberta.
Agora, que estamos submetidos diariamente ao discurso jurídico, podemos verificar que ele consiste em criar opacidade nas palavras, de tal modo que todos os problemas passam a ser linguagem.
Todos temos a sensação de que os juízes, procuradores, delegados se obstinam a falar com as mesmas palavras, no interior das quais se encerraram para sempre.
Não se trata de uma linguagem, como a da ciência ou da filosofia, codificada por necessidade de rigor conceptual.
Na ciência, esse rigor serve para evitar os equívocos, para não dizer com as palavras uma coisa diferente daquilo que se pretende.
Mas nesta linguagem jurídica que nos envolve acontece precisamente o contrário:
as palavras cristalizam-se, tornam-se corpos sem vida, e o que passou a ter significado é o acto de as proferir.
Assim, aquilo que se apresenta como a razão jurídica é afinal a performance de um corpo monstruoso: o corpo judicial."

terça-feira, dezembro 15, 2009

Under the December skies

Nos dias que correm os Encontros com asterisco de futuro são difíceis de acontecer.
Talvez seja isso que torna as "Separações" ainda mais difíceis...

sexta-feira, dezembro 11, 2009

Is that Christmas morning creaks? talvez...

Em modo repeat, nos ultimos dias de pensamentos divididos

domingo, dezembro 06, 2009

Aleixo FM

O carismático Bruno Aleixo regressa (depois de umas séries de programas na Sic radical) com um pequeno programa na Antena 3.
Bem haja!
Não se pode dizer que a duração ou o horário sejam nobres, mas vindo duma rádio mainstream que aposta em repetir formatos e subjugar-se a playlists semanais não está mal para começar...
Fica aqui, como teaser, o 1º programa;)

sexta-feira, novembro 13, 2009

Descoberta com patrocínio da Radar...

domingo, novembro 08, 2009

O Factor Vara

Passo a transcrever na integra uma crónica escrita por Miguel Sousa Tavares:

"Toda a 'carreira', se assim lhe podemos chamar, de Armando Vara, é uma história que, quando não possa ser explicada pelo mérito (o que, aparentemente, é regra), tem de ser levada à conta da sorte. Uma sorte extraordinária.
Teve a sorte de, ainda bem novo, ter sentido uma irresistível vocação de militante socialista, que para sempre lhe mudaria o destino traçado de humilde empregado bancário da CGD lá na terra.

Teve o mérito de ter dedicado vinte anos da sua vida ao exaltante trabalho político no PS, cimentando um currículo de que, todavia, a nação não conhece, em tantos anos de deputado ou dirigente político, acto, ideia ou obra que fique na memória.

Culminou tão profícua carreira com o prestigiado cargo de ministro da Administração Interna - em cuja pasta congeminou a genial ideia de transformar as directorias e as próprias funções do Ministério em Fundações, de direito privado e dinheiros públicos.
Um ovo de Colombo que, como seria fácil de prever, conduziria à multiplicação de despesa e de "tachos" a distribuir pela "gente de bem" do costume.
Injustamente, a ideia causou escândalo público, motivou a irritação de Jorge Sampaio e forçou Guterres a dispensar os seus dedicados serviços.
E assim acabou - "voluntariamente", como diz o próprio - a sua fase de dedicação à causa pública.

Emergiu, vinte anos depois, no seu guardado lugar de funcionário da CGD, mas agora promovido por antiguidade ao lugar de director, com a misteriosa pasta da "segurança". E assim se manteve um par de anos, até aparecer também subitamente licenciado em Relações Qualquer Coisa por uma também súbita Universidade, entretanto fechada por ostensiva fraude académica.

Poucos dias após a obtenção do "canudo", o agora dr. Armado Vara viu-se promovido - por mérito, certamente, e por nomeação política, inevitavelmente - ao lugar de administrador da CGD: assim nasceu um banqueiro. Mas a sua sorte não acabou aí: ainda não tinha aquecido o lugar no banco público, e rebentava a barraca do BCP, proporcionando ao Governo socialista a extraordinária oportunidade de domesticar o maior banco privado do país, sem sequer ter de o nacionalizar, limitando-se a nomear os seus escolhidos para a administração, em lugar dos desacreditados administradores de "sucesso".

A escolha caiu em Santos Ferreira, presidente da CGD, que para lá levou dois homens de confiança sua, entre os quais o sortudo Dr. Vara. E, para que o PSD acalmasse a sua fúria, Sócrates deu-lhes a presidência da CGD e assim a meteórica ascensão do Dr. Vara na banca nacional acabou por ser assumida com um sorriso e um tom "leve".

Podia ter acabado aí a sorte do homem, mas não.
E, desta vez, sem que ele tenha sido tido ou achado, por pura sorte, descobriu-se que, mesmo depois de ter saído da CGD, conseguiu ser promovido ao escalão máximo de vencimento, no qual vencerá a sua tão merecida reforma, a seu tempo.
Porque, como explicou fonte da "instituição" ao jornal "Público", é prática comum do "grupo" promover todos os seus administradores-quadros ao escalão máximo quando deixam de lá trabalhar.
Fico feliz por saber que o banco público, onde os contribuintes injectaram nos últimos seis meses mil milhões de euros para, entre outros coisas, cobrir os riscos do dinheiro emprestado ao Sr. comendador Berardo para ele lançar um raide sobre o BCP, onde se pratica actualmente o maior spread no crédito à habitação, tem uma política tão generosa de recompensa aos seus administradores - mesmo que por lá não tenham passado mais do que um par de anos.

Ah, se todas as empresas, públicas e privadas, fossem assim, isto seria verdadeiramente o paraíso dos trabalhadores!
Eu bem tento sorrir apenas e encarar estas coisas de forma leve. Mas o 'factor Vara' deixa-me vagamente deprimido. Penso em tantos e tantos jovens com carreiras académicas de mérito e esforço, cujos pais se mataram a trabalhar para lhes pagar estudos e que hoje concorrem a lugares de carteiros nos CTT ou de vendedores porta a porta e, não sei porquê, sinto-me deprimido. Este país não é para todos.

P.S. - Para que as coisas fiquem claras, informo que o sr. (ou dr.) Armando Vara tem a correr contra mim uma acção cível em que me pede 250 000 euros de indemnização por "ofensas ao seu bom-nome". Porque, algures, eu disse o seguinte: "Quando entra em cena Armando Vara, fico logo desconfiado por princípio, porque há muitas coisas no passado político dele de que sou altamente crítico". Aparentemente, o queixoso pensa que por "passado político" eu quis insinuar outras coisas, que a sua consciência ou o seu invocado "bom-nome" lhe sugerem. Eu sei que o Código Civil diz que todos têm direito ao bom-nome e que o bom-nome se presume. Mas eu cá continuo a acreditar noutros valores: o bom-nome, para mim, não se presume, não se apregoa, não se compra, nem se fabrica em série - ou se tem ou não se tem. O tribunal dirá, mas, até lá e mesmo depois disso, não estou cativo do "bom-nome" do Sr. Armando Vara. Era o que faltava! Acabei de confirmar no site e está lá, no site institucional do BCP. Vejam bem os anos de licenciatura e de pós-graduação!!!!! :

Armando António Martins Vara

Dados pessoais:
· Data de nascimento: 27 de Março de 1954
· Naturalidade: Vinhais - Bragança
· Nacionalidade: Portuguesa
· Cargo: Vice-Presidente do Conselho de Administração Executivo
· Início de Funções: 16 de Janeiro de 2008
· Mandato em Curso: 2008/2010

Formação e experiência Académica
Formação:
· 2005 - Licenciatura em Relações Internacionais (UNI)
· 2004 - Pós-Graduação em Gestão Empresarial (ISCTE)

- Site do BCP

Extraordinário... CV de fazer inveja a qualquer gestor de topo, que nunca tenha perdido tempo em tachos e no PS !

Conseguiu tirar uma Pós-graduação ANTES da licenciatura...

Ou a pós-graduação não era pós-graduação ou foi tirada com o mesmo professor da licenciatura, dele e do Eng. Sócrates... e viva o BCP e o seu "bom nome" !!! "

MIGUEL SOUSA TAVARES